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O Hotel Saint Germain

Publicado em maio 11, 2021 por J. R. King

Eu não estava prepara para voltar à Paris. Mesmo depois de tanto tempo, as feridas do meu passado ainda não haviam cicatrizado. Porém, quando se trata de negócios, não há nenhuma oferta que seja recusável. Então, precisei engolir o meu passado e ir em frente.

Chegara na capital francesa por volta das 15 horas. Era uma quinta-feira quente de verão. Passando pela cidade enquanto o táxi me levada do aeroporto ao hotel, percebi que a cidade havia perdido um pouco do seu brilho, do seu romantismo. Talvez por eu já não ter mais o encanto do turista ocasional, ou simplesmente por ter enjoado daquela repetitiva arquitetura europeia após dois anos morando lá.

Do meu quarto no Hotel Saint Germain, era possível ver a imponente Torre Eifel, uma das coisas que não havia perdido o seu encanto na cidade, Vê-la iluminada a noite era simplesmente fantástico, e me ajudara a encarar com mais força a volta àquela cidade. Porém, algo estava para ocorrer naquela noite que traria de volta todo o meu passado, meus arrependimentos e traumas na Cidade Luz.

Por volta das seis horas da noite, pedi o meu jantar ao serviço de quarto, junto de uma garrafa de vinho para degustar minha volta à cidade. Assim que coloco o telefone no gancho novamente ele começa a tocar. Pego-o de volta e digo:

“Alô?”

“C’est moi.” Responde a voz do outro lado da linha. Uma voz feminina, um pouco rouca e aguda. Uma voz que para mim era mais do que familiar. Uma voz que me fizera congelar por um instante antes de responder.

“Emma?”

“Sim, a própria. Soube que você está de volta à Paris.”

 

“Sim, estou há negócios. Como você descobriu?”

“Isso não importa. Eu gostaria de te ver.”

Congelei novamente. Não sabia se devia aceitar o seu pedido ou não. Parecia tudo ainda recente para mim. O fim de nossa relação ainda batia forte em minha mente e coração. Mas no fim, decidi:

“Sim, também gostaria de te ver.”

“Ótimo, em meia-hora estarei aí. Tchau.”

Eu sabia que, voltando àquela cidade, o meu passado voltaria junto. Mas não achei que seria tão depressa. Realmente não importava como ela me achara, pois eu sabia que ela me encontraria, cedo ou tarde. Emma era tão parisiense na mesma proporção que eu não conseguia ser. E se tem alguém nessa cidade que seria capaz de me encontrar, era ela.

Decidi tomar um banho antes dela chegar, além de tirar todo o cheiro da viagem que ficara entranhado em mim após oito horas no avião. Me arrumei da melhor forma que pude, em minhas circunstâncias. Não tinha certeza de suas intenções, mas gostaria de causar a melhor impressão depois de tanto tempo. Coloquei também para tocar no som do quarto uma canção. Lembrei do artista que ela mais amava, Joe Dassin, e coloquei uma de suas músicas para tocar.

Depois de meia-hora, quase que perfeitamente pontual, a campainha toca. Ajeito minha roupa, arrumo o meu cabelo e abro. No momento em que a vi, senti um arrepio dos meus pés até a cabeça. Ela estava tão linda quanto eu lembrava. Sua pele, quase tão clara quanto o próprio dia, suas pernas, tão belas que ela fazia questão de deixa-las à mostra para que todas as pessoas pudessem apreciar. Vestia um vestido vermelho não muito justo. Ela odiava roupas justas, considerava vulgares demais. Não havia envelhecido um dia sequer. Seu olhos que me encantaram no primeiro dia que a vi continuavam a me encantar depois de tanto tempo. Em sua boca, segurava um cigarro, vicio que eu nunca tive coragem de fazê-la largar. Apenas reparei que não voltara no tempo, pois ela tinha mudado o seu cabelo. Seus longos cabelos loiros agora deram lugar a um curto penteado, quase tão curto quanto o meu, agora tingido de preto. Lembrei que sempre dizia a ela o quanto eu gostava de mulheres de cabelos curtos, apesar dela nunca tê-los mudado por mim. Mas parece que, no final de tudo, eu a havia influenciado tardiamente, assim como ela me influenciara em muitas coisas.

“Bonne nuit, Gustavo.” Disse ela, enquanto me fitava de cima a baixo, como se examinasse a pessoa que havia me tornado.

“Bonne nuit, Emma.”

“Posso entrar?”

“Pode. por favor.”

“Merci.”

Ela então entrou, em passos tão delicados que pareciam estar em câmera lenta. E então, sentou-se na poltrona de veludo que havia perto do som. Ela reparou na música que tocava, e falou:

“Joe Dassin? Meu deus, você continua sendo tão previsível.”

Ela deu um sorriso, e então voltou a fumar o cigarro que segurava entre os seus dedos.

“Você cortou o cabelo.”

“Oui, você gostou?”

“Sim, e pintou ele também.”

“Oui. Você sempre falou que gostava de morenas.”

“Não, eu nunca disse que gostava de morenas. Disse que gostava de garotas de cabelo curto.”

“Que seja.” Ela falou e deu uma última tragada em seu cigarro, afundando-o no cinzeiro que havia na cômoda.

Logo em seguida, a campainha do quarto tocou novamente. Fui atender. Era o serviço de quarto, trazendo meu jantar, um Magret de pato com salada, acompanhado de um vinho Bourgogne Pinot Noir 1966. O garçom empurrou o carrinho para dentro do meu quarto. Reparando na presença de Emma no meu quarto, ele perguntou:

“Quer que eu traga outra taça, senhor?”

“Sim, por favor.” Respondi, e então ele nos deixou a sós.

Servi o vinho a Emma em minha taça e sentei-me em minha cama.

“O que lhe trás de volta a Paris?” Indagou Emma.

“Negócios.”

“Como sempre.”

“O que quer dizer com isso?”

“Que você sempre se deixou levar pelos negócios, não é mesmo? Ele te trouxe até aqui antes e te tirou. E agora te pôs de volta aqui.”

“Olha, Emma, não foi bem isso que aconteceu.”

“Que seja. Eu não me importo, tampouco quero brigar por isso agora.”

Fiquei em silêncio. Emma continuava a degustar o seu vinho. Até que o garçom retornara com a segunda taça. Servi-me e continuei a ficar sentado na cama.

“Quanto tempo você vai ficar aqui?”

“Apenas três dias.”

Eis que então ela se levanta da poltrona, coloca a taça de vinho no carrinho e se dirigi até mim, ficando em pé bem na minha frente. Ela começa a passar a mão em meu cabelo e diz:

“Eu senti sua falta.”

Naquele momento, tudo voltou a ser como era antes. Não podia negar que estava feliz que ela estivesse ali, comigo, nem que fosse por só mais um dia ou dois.

“Também senti sua falta, Emma.”

Abracei-a pela cintura e afundei o meu rosto em seu vestido. Seu cheiro era como há cinco anos atrás, seu corpo era como há cinco anos atrás, tudo não parecia ter mudado um dia sequer, e me vi novamente em nosso apartamento no Quartier de la Gare. Ela correspondeu ao meu desejo e me beijou. Naquele momento nada mais importava, além de nós dois. Passava as minhas mãos pelo seu corpo, sentindo novamente suas curvas em uma mistura de excitação e nostalgia. Por um tempo, lembrei o que me fizera ficar tanto tempo em Paris, e o que me fizera sentir tanta dor quando fui embora. Era Emma o tempo todo, a mulher que eu mais amara em toda minha vida.

Coloquei minhas mãos por debaixo do vestido de Emma e tirei sua calcinha. Depois a joguei na cama, e voltei a beija-la intensamente. Prossegui a beija-la, descendo pelo seu corpo, até chegar em suas pernas, tão sedosas quanto o vestido que a usara. Depois de tanto tempo estava eu lá de novo, no meio daquelas pernas, apreciando o seu sexo, sua vulgaridade, sua beleza tão jovial. Beijei suas coxas e foi descendo até chegar em seus lábios. Enquanto a excitada, podia sentir seu prazer, seu corpo se contorcendo, seus gemidos tão característicos e sensuais que me deixavam excitados apenas ao ouvi-los. Quando voltei a olhar em seus olhos, vi uma mistura de sentimentos dentro de si mesma, que de alguma forma, dialogava com os meus próprios sentimentos.

“Me desculpe, Emma. Por tudo o que aconteceu. Pela forma como tratei o nosso relacionamento.”

“Tá tudo bem, Gustavo. Je t’aime encore.”

“Je t’aime toujours aussi, Emma.”

Voltamos a nos beijar. Ela começou a tirar minha roupa e eu abaixei o seu vestido, revelando aqueles seios que tanto havia amado novamente. E novamente hei de ama-los. Beijava-os, mordia-os, chupava-os sem pudor. Não demorou para que consumássemos nosso ato. Enquanto nos amávamos, beijava como se fossemos amantes pela primeira vez. Rolamos por toda cama enquanto nos amávamos. Naquele momento era como se fossemos um, em perfeita sincronia de desejo. Um amor reconciliador, um amor que matara a saudade da distância. Um fogo tão intenso que demorou para apagar.

Depois de completamente exaustos, após uma longa noite de amor, deitamos um de cada lado da cama. Emma acendeu um cigarro e tragou. Pedi um pouco e ela passou.

“Não sabia que você fumava.” Disse ela.

“E não fumo. Apenas tive vontade.”

Ficamos em silencio, apreciando a companhia um do outro. Depois de um tempo. Emma se levantou. Colocou o roupão do hotel e se dirigiu até a varanda. Acompanhei ela e ficamos apreciando a beleza da Torre Eifel, toda iluminada.

“Sabe, eu posso olhar para essa coisa enorme de metal toda noite, que eu acho que nunca enjoarei dela.” Disse ela enquanto tragava o seu cigarro.

“Poisé, eu também não.”

Ela olhou para mim, deu um sorriso, como se tivesse tudo certo naquele momento, e me abraçou. Em seguida, voltamos para cama e adormecemos. Na manhã seguinte, Emma já não estava mais em meu quarto quando eu acordei. Havia deixado um bilhete, dizendo como fora especial a nossa noite, e por isso ela precisava ir. Não podia me deixar presa a ela, mas deixou seu número de telefone.

“Agora, a próxima vez que você tiver em Paris, eu não precisarei te procurar. Você irá me procurar.” Dizia o bilhete. “À bientôt, mon amour.”

Naquele dia, percebi que havia um motivo para voltar a Paris.

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